ATA DA PRIMEIRA SESSÃO ESPECIAL DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 10.03.1998.

 


Aos dez dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e trinta minutos, foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adeli Sell, Carlos Garcia, Gerson Almeida, Hélio Corbellini, Henrique Fontana, Isaac Ainhorn, João Carlos Nedel, João Dib, João Motta, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Maria do Rosário e Paulo Brum. Ainda, durante a Sessão, compareceram os Vereadores Anamaria Negroni, Clovis Ilgenfritz, Elói Guimarães, Juarez Pinheiro, Nereu D'Ávila, Pedro Américo Leal e Reginaldo Pujol. Constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Especial, destinada a debater os efeitos decorrentes da implantação de projetos de grandes centros comerciais e congêneres, no comércio local, especialmente quanto à necessidade de preservação de fontes de renda e empregos, nos termos do Requerimento nº 50/98 (Processo nº 634/98), de autoria do Vereador João Motta. Compuseram a Mesa: o Vereador Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Newton Burmeister, Secretário Municipal do Planejamento; o Senhor José Luiz Vianna Moraes, Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio; o Senhor Paulo Afonso Feijó, Presidente da Associação Brasileira de Supermercados; o Senhor Waldir Antônio Bronzatto, Presidente do Núcleo Empresarial Passo da Areia; o Vereador João Motta, proponente da Sessão; o Vereador Juarez Pinheiro, 1º Secretário da Casa. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as seguintes presenças: do Senhor Sérgio Kapron, Supervisor de Apoio e Empreendimentos da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio; do Senhor Antônio Roslank, Diretor-Financeiro da Associação Empresarial Nova Azenha; dos Senhores Henrique Gerchmann  e  Carlos  Tett  Paiva  Neto,  respectivamente,  Diretor Financeiro e Diretor Executivo do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre, SINDILOJAS; do Senhor João Francisco Micelli Vieira, representante do Sindicato dos Comerciantes e Varejistas de Gêneros Alimentícios de Porto Alegre. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra, pelo período de dez minutos,  ao  Vereador João Motta, proponente da Sessão, e aos Senhores Paulo Afonso Feijó, Waldir Antônio Bronzatto, Newton Burmeister, José Luiz Vianna Moraes, Henrique Gerchmann e João Francisco Micelli Vieira, que discorreram sobre o tema em debate, apresentando seus posicionamentos acerca da importância do planejamento urbano para que seja viabilizado um desenvolvimento positivo para Porto Alegre, com a participação concreta de toda a comunidade, através da priorização da empresa regional. Na oportunidade, respondendo a Questão de Ordem do Vereador Isaac Ainhorn, o Senhor Presidente prestou informações acerca do andamento dos trabalhos. Também, registrou o recebimento de material do Senhor Paulo Afonso Feijó, sobre a legislação vigente na Itália, Espanha e Portugal, relativa ao planejamento urbano. Após, concedeu a palavra, por cinco minutos, aos Vereadores João Dib, Isaac Ainhorn, Clovis Ilgenfritz, Adeli Sell, Elói Guimarães, Juarez Pinheiro, Henrique Fontana, Paulo Brum, Anamaria Negroni e Reginaldo Pujol, que pronunciaram-se acerca do tema em questão, salientando, em especial, a importância do debate hoje aqui realizado, face às discussões atualmente verificadas na Casa, relativas ao II Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Vereador João Motta, que registrou sua intenção de protocolar projeto de medida transitória para estabelecer parâmetros relativos à construção de grandes centros comerciais e congêneres em Porto Alegre, distribuindo cópia do anteprojeto de tal medida aos presentes, tendo os Vereadores João Dib, Luiz Braz e Paulo Brum manifestado seu apoio à proposta de  Sua Excelência. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezessete horas e cinqüenta e seis minutos, registrando a realização de reuniões da Mesa Diretora e do Colégio de Líderes, amanhã, às nove e às dez horas. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Luiz Braz e secretariados pelo Vereador Juarez Pinheiro. Do que eu, Juarez Pinheiro, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada  por mim e pelo Senhor Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Quero dar conhecimento ao Plenário de que os Vereadores estão reunidos em sua Comissões Permanentes na Casa, fazendo com que nós não tenhamos mais Vereadores presentes. Além das reuniões nas Comissões Permanentes  nós também temos, ainda hoje, a reunião do nosso Conselho de Cidadãos, aonde temos, lá, alguns Vereadores que acompanham a reunião, que é a primeira deste ano de 1998.

A presente Sessão Especial destina-se a debater os efeitos decorrentes da implantação de projetos de grandes centros comerciais e congêneres, no comércio local, especialmente quanto à necessidade de preservação de fontes de renda e empregos. O Requerimento nº 050/98, de autoria do Ver. João Motta, e o Processo nº 0634/98. Convidamos para compor a Mesa o Secretário Municipal do Planejamento, Sr. Newton Burmeister; o Secretário Municipal da Produção, Indústria e Comércio, Sr. José Luiz Vianna Moraes; Presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Sr. Paulo Afonso Freijó; proponente da Sessão, Ver. João Motta. Como extensão da Mesa queremos saudar o Supervisor de Apoio e Empreendimentos - SMIC, Sr. Sérgio Kapron; Presidente do Núcleo Empresarial Passo da Areia, Sr. Waldir Antonio Bronzatto; Diretor Financeiro da Associação Empresarial Nova Azenha, Sr. Antônio Roslank; Diretor Financeiro do SINDILOJAS, Sr. Henrique Gerchmann; Diretor Executivo do SINDILOJAS, Sr. Carlos Tett Paiva Neto; Representante do Sindicato dos Comerciantes e Varejistas de Gêneros Alimentícios de Porto Alegre, Sr. João Francisco Micelli Vieira. Queremos também registrar a presença dos Vereadores Nereu D'Ávila, Elói Guimarães e Adeli Sell.

Com a palavra o Ver. João Motta, autor do Requerimento.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os  componentes da Mesa e demais presentes.) Na verdade nós tivemos, há alguns dias, aqui na nossa Câmara Municipal de Porto Alegre, a oportunidade de ouvirmos, através do uso da Tribuna Popular, de uma fala muito contundente e muito clara, muito lúcida, a respeito do que estamos vivenciando em Porto Alegre, neste momento. Aliás, acontecimento este que nós prevíamos, particularmente, daqueles que acompanham a evolução econômica vivida pelo mundo e, particularmente, pelo Brasil, com a introdução na área do comércio desses reflexos, ou seja, uma tendência de concentração dos empreendimentos e das iniciativas empreendedoras nesta área, principalmente, através da iniciativa dos chamados grandes grupos nacionais e até mesmo estrangeiros.

Pois bem, o que está ocorrendo é que nós, aqui em Porto Alegre, estamos iniciando um processo de debates e discussão através de dois movimentos: o primeiro é a discussão sobre o Plano Diretor; o outro, quando da instalação da Comissão Temática de Desenvolvimento que aqui congregou todos aqueles cidadãos e cidadãs da nossa Cidade, que estão interessados no Desenvolvimento Econômico. Portanto, dois processos que se combinam e que se alimentam mutuamente. Na verdade estamos diante de uma situação que todas as leis que então existem, vigendo plenamente em nosso Município, por uma razão, que parece até evidente, não previram exatamente a situação que nós neste momento estamos vivenciando de forma bem mais contundente, que é exatamente a concentração, este crescimento do volume de empreendimentos na área econômica do comércio em nossa Cidade, fazendo com que haja a necessidade de debate, como este que estamos realizando aqui. A Comissão Temática iniciou ontem, nesta Casa, debates como este que iremos realizar a partir de agora, quando da discussão do Plano Diretor, prevendo não só as conseqüências que este tipo de empreendimento, ou o que têm esses empreendimentos, sob o ponto de vista do impacto urbanístico; bem como, também, do ponto de vista do seu impacto ambiental; bem como sob o ponto de vista do seu impacto econômico na estrutura econômica existente na nossa Cidade, constituída ao longo de décadas e décadas, por gerações e gerações, e que agora se encontra de fato, de uma certa forma, ameaçada.

Portanto se nós, de fato, estamos preocupados em discutir a seqüência desse processo de desenvolvimento econômico da nossa Cidade, mas, ao mesmo tempo, compatibilizar o ingresso de novos capitais e o ingresso de novos empreendimentos, nós temos que também olhar para essa estrutura, para  esse tecido econômico existente na nossa Cidade que, de certa forma, precisa ser alimentado e  preservado, sob pena de  vivenciarmos aqui em Porto Alegre fenômenos semelhantes ao que já se viveu no Brasil.  Como é o caso de São Paulo em que se acabou monopolizando a atividade econômica  do comércio sobre a hegemonia e controle de quatro ou cinco grandes grupos  econômicos, em detrimento de quem? Fundamentalmente da rede, da estrutura, do tecido econômico local e, evidentemente, a conseqüência nós sabemos que é  a recessão, a perda, a  extinção de postos de trabalho, portanto: o desemprego. É evidente  que não estamos aqui assumindo uma posição xenófoba, preconceituosa, sectária e estreita, somos a favor do desenvolvimento econômico, inclusive a nossa Administração tem sido  exemplar sob o ponto de vista de viabilizar esses empreendimentos. O exemplo mais recente foi o “Shopping Cristal”, onde foram feitos todos os esforços de negociação  com a Câmara  para viabilizar  o empreendimento. Não podemos, tendo em vista o fato de que a tendência a partir do novo  Plano Diretor é  termos outro tipo de regramento, ficarmos omissos diante de uma espécie de corrida que os empreendedores vão  fazer para fugir  do possível novo regramento. Essa é  a questão mais grave e que mais nos preocupa neste momento.

Eu quero apenas registrar que estamos ansiosos para ouvir a fala dos nossos convidados. Também registramos que o nosso gabinete tomou a liberdade de, a partir de várias contribuições hoje pela manhã, rapidamente, consultar e reunir-se com o arquiteto da nossa Cidade, que acompanhou nos últimos 20 anos todo esse processo de mudança na legislação urbanística da nossa Cidade. Ele relembrou um exemplo, prezado amigo  Bronzatto, e nós não estamos pela primeira vez fazendo essa discussão em Porto Alegre. Em 1978, quando se discutiu a mudança do Plano Diretor, na época, o Prefeito  Socias Villela, por um Decreto do Executivo suspendeu todas as autorizações e liberações de edificações para empreendimentos de grande porte para a nossa Cidade, até que fosse feito um  novo pacto urbanístico, tendo em vista a mudança estrutural que a economia vivia. Era a época da implantação do chamado modelo desenvolvimentista, implantado no País em nível nacional em razão da mudança estrutural que tivemos em termos de regime político da época. Eu não quero estabelecer aqui aquela medida como paradigma. Agora eu quero dizer com isso que, na minha opinião pelo menos, nós estamos agora no meu gabinete acabando uma primeira versão de uma idéia de legislação que vai exatamente nesse sentido. Precisamos ter uma transição entre a aprovação desses novos parâmetros, que leve em conta a necessidade de Porto Alegre não ser estreita no recebimento desses grandes empreendimentos, mas que não seja burra e omissa em relação a preservar a rede econômica existente em nossa Cidade. O estudo que fizemos  é de propor para o debate ao meu Governo, para a minha Bancada, para todos aqui presentes, uma transição que suste as liberações de novos empreendimentos para a nossa Cidade por um período de seis meses, até que nós tenhamos o “retatuamento” dessa situação. Assim, a Cidade de Porto Alegre, em última instância, fará essa transição na economia em que está vivendo, sem traumas e sem conseqüências negativas para a própria economia da Cidade. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

                                        

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Nobre Vereador Presidente, observando o roteiro do trabalho, constatei que em primeiro lugar fala o autor do Requerimento. Posteriormente, numa ordem estabelecida, seriam os integrantes da Mesa e, após, os convidados?

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Motta falou, agora vai falar o Sr. Paulo Afonso Feijó, que tem um trabalho já preparado. Depois falam os integrantes da Mesa,  todas aquelas entidades que estão presentes e inscritas e, a seguir, os Srs. Vereadores.

 

O SR. PAULO AFONSO FEIJÓ: Exmo. Ver. Luiz Braz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Exmo. Ver.  João Motta, requerente desta Sessão;  Srs. Componentes da Mesa; Srs. Vereadores e Vereadoras presentes; representantes de outras Associações e Entidades; Senhoras e Senhores. Quero, em primeiro lugar, agradecer o convite para estar aqui nesta Casa, mais uma vez, e espero contribuir para o debate trazendo informações técnicas e de tendência da indústria supermercadista de todo o mundo, os erros e acertos cometidos em outros países, e  como melhor promover o desenvolvimento e a competição com foco no consumidor.

Quero informar a todos os presentes que o material aqui apresentado já foi entregue ao Presidente da Casa.

Presido a ABRAS, Associação Brasileira dos Supermercados, ha três anos e meio e fui Presidente da Associação Gaúcha de Supermercados por cinco anos. Atuo nesse segmento há mais de vinte e cinco anos, dirigindo o “Extra Econômico Supermercado”, uma empresa da minha família, com mais de sessenta anos de tradição no comércio de Porto Alegre.

Vou apresentar algumas lâminas, com alguns gráficos que eu gostaria de apresentar.

Os supermercados no Brasil são representados pela ABRAS, uma associação civil composta por 25 associações estaduais. Faturamos em 1997, 50 bilhões de reais, representando 6,5% do PIB, empregando diretamente 655 mil pessoas, e somos responsáveis por 85% do abastecimento em todo País.

As crenças da ABRAS e o que ela defende: a ABRAS é a favor da livre iniciativa, dos ideais de liberdade, luta pela igualdade de oportunidades, respeita os direitos individuais. Somos a favor do ingresso de capital estrangeiro em nosso País e somos contra qualquer reserva de mercado. Entendemos que a competição é a melhor  forma de beneficiar o consumidor em qualquer parte do mundo.

Um gráfico  a seguir mostra a participação no mercado de cada perfil de loja que opera no Brasil, no Rio Grande do Sul e, por conseqüência, em Porto Alegre. Esta é a participação existente e a realidade de hoje no mercado: 83% são representados pelos supermercados convencionais; 16% são representados por hipermercados e megalojas; 1% por lojas convencionais.

O gráfico a seguir representa qual a tendência deste mercado e o que acontecerá nos próximos cinco a dez anos, inevitavelmente. Esta será a participação de mercado: os supermercados cairão quase 30%; de 83% ficarão com uma participação de 60% do mercado. Isto significará o fechamento de 10 mil lojas de supermercados em todo País, e menos 196 mil postos de trabalhos diretos. Os hipermercados crescerão 125%. Dos 16% que possuem hoje, passarão para uma fatia de 36%, gerando 120 mil novos empregos e deixando de fora do mercado de trabalho 76 mil trabalhadores. Os demais são pouco representativos. Eu só quero demonstrar o que aconteceu desde o início dos hipermercados no Brasil, de 22 anos para cá e qual a tendência nos próximos cinco anos.

Um dado importante é o número de empregos das cinco maiores companhias no Brasil. Esse gráfico mostra que as cinco maiores redes do País utilizam 38% menos funcionários para vender o mesmo volume. Se analisarmos empresas que possuem somente hipermercados, esse número poderá chegar a 50% menos. Isso seria extremamente benéfico ao consumidor se esse ganho fosse repassado aos preços. Mas não é o que acontece quando operamos em um mercado altamente concentrado.

Apresento, a seguir, o gráfico do que representou equívocos no mercado europeu, onde hoje o grau de concentração de alguns países é tão grande que formaram verdadeiros oligopólios ou monopólios, onde o consumidor é condenado a comprar sem ter a liberdade de escolha. Só como exemplo, as três maiores redes de supermercados que operam na Suécia detêm 95% do mercado. E assim tantos outros, como na Alemanha, onde três companhias detêm 47%; no Reino Unido, três companhias detêm 45%; na França, três companhias detêm 38%. Eu chamaria isso de a primeira onda de concentração na nossa atividade.

A seguir, mostro a concentração na América Latina. Nesse “slide” apresento o que classifico de segunda onda: a concentração onde o Brasil é o foco maior, por ser o País de maior potencial na América Latina. O México tem 35% nas mãos de três companhias; o Chile, 34%; o Uruguai, 35%; a Argentina, com o mais baixo índice de concentração, 14% e o Brasil, onde quatro companhias já têm hoje 26% de todo o mercado nacional.

Há concentração no Brasil,  as quatro maiores companhias que operam em nosso País detêm 26% deste mercado e as demais, 18 mil empresas, repartem 74% da fatia. Isto é, 26% estão na mão de quatro companhias que são: o Carrefour com 12%; o Pão de Açúcar com 8%; a Royal Ahold, uma companhia estrangeira que há seis meses entrou no Brasil, com 4% e o Sendas, empresa do Rio de Janeiro, com 2%.

Por que a concentração? Atribuo a desigualdade na captação de recursos como o principal fator que está dando suporte, alavancagem à rápida concentração em nosso País. O custo do dinheiro aqui “versus” o custo do dinheiro lá fora. Toda  companhia internacional tem o volume que bem entender de capital para investir em nosso País. Entendo que a vinda de muitas companhias estrangeiras para o Brasil é proveniente da saturação no mercado de origem e, também, porque em seus países está proibida a construção de hipermercados ou megaempreendimentos de varejo, por tudo aquilo que já causaram  em nível de concentração e domínio de mercado.

Sr. Presidente, tenho comigo a legislação de Portugal, da Espanha, da Itália, da França e da Alemanha e gostaria de lhe passar este material. Em  todos esses países, hoje, é proibida a construção de qualquer loja de varejo com  mais de dois mil metros quadrados. É impossível, nesses países, se construir lojas de supermercados ou de varejo superior a dois mil metros quadrados. Por isso esses países e essas grandes companhias estão aplicando seu desenvolvimento em países como o Brasil, em países que compreendem a América Latina, Ásia e o leste Europeu.

A regulamentação desapropriadora é um dos fatores de concentração, como, por exemplo,  o Plano Diretor de nossa Cidade que está criando privilégios para alguns supermercados já instalados, que permanecem assim e  que nunca terão concorrência, condenando os nossos consumidores a não terem outra opção, a não ser comprar daquele supermercado já instalado.

Gostaria de fazer um breve comentário sobre como atuam os supermercados e o perfil de lojas, só para os Senhores terem uma idéia , os hipermercados têm uma raio de ação de até 15 km de onde estão instalados, então uma loja de supermercado de até cinco mil metros, atua até três ou quatro mil metros de onde está  instalada. E uma loja de bairro, de mil a dois mil metros, atua até dois mil metros de onde está instalada. Refiro-me à concentração em alguns bairros, onde já estão instalados e onde, infelizmente,  o Plano Diretor não permite a instalação de outras lojas de mesmo porte para fazer concorrência.

O que é um mercado concentrado? O próximo “slide”  mostra e diz o que é um mercado concentrado, por definição de Michael Porter, que é considerado a maior autoridade mundial em  “marketing”  e estratégia. Ele considera o mercado concentrado quando quatro empresas detiverem quarenta por cento ou mais de um mercado; recomenda que, como estratégia, devemos evitar a concentração em qualquer atividade.

Vamos falar um pouco do exemplo americano: nos Estados Unidos não existe concentração, porque esse é o mercado mais competitivo do mundo, onde o consumidor tem as maiores e melhores opções de compra; onde existe um supermercado de mesmo porte ao lado ou à frente de outro; onde os “hipers” não vingaram. Algumas empresas européias que lá se instalaram não tiveram sucesso e se retiraram daquele mercado por não serem competitivas. Porque existem órgãos nos Estados Unidos,  como o nosso CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômico - que controla o mercado em nível de não permitir a concentração em nenhuma atividade. Qualquer um pode instalar o que quiser e onde quiser, desde que não tenha mais do que 10% do mercado. Também porque mais de 64 comunidades americanas rejeitaram, no ano de 1997, grandes megaempreendimentos imobiliários na área de varejo. Só para citar um exemplo, uma das cidades foi São Francisco. Hoje há um "site" na Internet que fala exatamente desse assunto e mostra quem, por que e as razões pelas quais essas 64 comunidades ou cidades americanas não permitiram a instalação de grandes corporações e de grandes lojas, que iriam deter nessas comunidades mais do que 10% da fatia do mercado.

As razões básicas alegadas por eles são que o grande extingue os pequenos; o megainvestimento cria poder de monopólio e gera desemprego na relação ou na proporção dos pequenos varejos já instalados.

Isso, Srs. Vereadores, só no ano de 1997, num dos países que, pode-se dizer, mais livres do mundo. Se o objetivo é beneficiar o mercado consumidor, entendo que devemos promover a maior competição possível dentro do mesmo perfil de área de atuação de cada loja.

Não devemos impedir a concorrência, privilegiando aqueles já instalados e protegidos pelo Plano Diretor, e, de forma nenhuma, permitir a concentração; pelo contrário, vamos estimular que se possa competir com os já instalados, com o mesmo perfil e tamanho de loja.

A concentração leva à formação de oligopólios ou até mesmo monopólios, que, após consolidados, deixarão de ser competitivos em preços, aumentando os seus lucros por dominar o mercado e não possuir concorrentes.

Srs. Vereadores para encerrar eu diria, como Presidente da ABRAS, que a tendência em cinco anos, se nada for feito, é de que cinco grandes grupos dominarão o mercado brasileiro, da mesma forma que dominaram em seus países de origem. Coloco-me à disposição para  qualquer pergunta. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos, também, a presença dos Vereadores Juarez Pinheiro, Pedro Américo Leal e Reginaldo Pujol.

O Sr. Waldir Antônio Bronzatto está com a palavra.

 

O SR. WALDIR ANTÔNIO BRONZATTO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Nós nos sentimos bastante confortados com os macro-dados que foram apresentados pelo Paulo Feijó, que demonstram as nossas preocupações mínimas numa escala bem maior. Cresceu o nosso problema e cresceram as nossas preocupações. Nós agimos, de início, mais por impulso, por um sentimento de localidade, por um sentimento de preservar aquilo que vamos fazendo como consultores capilares da economia da Cidade. Em verdade, sentimos que o concentracionismo e o racionalismo econômicos estão levando a essa grande mácula, que é o desemprego em escala insuportável no País. Nós temos dados pequenos, mas vamos procurar fazer uma projeção relativamente ao porte do nosso mercado. A investida dos capitais mais fáceis e mais voláteis estão "invadindo" a nossa vida econômica e estão  nos levando a uma dispersão e a uma exclusão de caráter econômico. Hoje o excluído não é só aquele tipicamente excluído da saúde, etc., e, sim, o excluído da economia: o empregado e o pequeno patrão, que estão na nova escala de excluídos do País.

É bem visível que a atividade econômica quanto mais se aproxima da família, quanto menor ela é, maior é a escala de emprego, e essa pirâmide é indiscutível. Nós temos o exemplo da Itália - temos aqui um recorte da "Gazeta Mercantil" -, cujo Primeiro Ministro esteve aqui há poucos dias e falou com todas as letras desse grande "boom" da economia italiana que se transformou na quinta potência econômica mundial, depois da Segunda Guerra Mundial, superando a Grã-Bretanha. E o fundamento dessa evolução são: a pequena e média empresas. A maneira como a Itália percorreu o seu futuro: baseada, justamente, no pequeno e médio empresariado. Isso por uma série de razões: a mobilidade que existe, a criatividade, o senso de utilidade das coisas, a pequena racionalização, a dedicação ao trabalho, enfim tudo aquilo que efetivamente cria isso que chamamos de capilaridade econômica. Os exemplos trazidos pelo Sr. Paulo Feijó demonstram essa preocupação com o futuro, se nós não tivermos leis que salvaguardem a existência da pequena e da média economia do País.

Temos aqui um gráfico mostrando a redução das pequenas lojas nos últimos anos. Duzentos e oitenta  médios supermercados quebraram no País, houve uma redução de 27% no número dessas lojas. 

A produção de lucros aqui no País e no exterior ... Vamos dar um exemplo do Carrefour, que é o que está no mapa agora:

 

(O mapa é projetado.)

 

Sessenta e dois por cento do mercado na França, 46 % dos lucros. No Brasil: 12 % do mercado, 20 % dos lucros. O Carrefour tem aumentado a margem de lucros dos últimos anos e a previsão é de continuar aumentando. Quem paga a conta é o consumidor. São dados da Nielsen e da Golden  Sachs, duas organizações de toda respeitabilidade.

Os lucros de 1992 para cá: de 16,8% já estão em 20%, e a previsão  é continuar subindo. É a escalada dos lucros à medida que vai havendo a oligopolização do mercado. 

Os lucros do mundo, de  1991 para frente: 1 bilhão e 125;  5 bilhões e  165. É a escalada dos lucros. É evidente que o lucro produzido dentro do País  é passado para fora; não fica aqui. Os lucros dos nossos nativos ainda ficam por aqui.

Faturamento por funcionário: os grandes supermercados aumentaram em 59% o seu faturamento com o mesmo número de funcionários. Temos aqui a ascensão do faturamento que houve a partir de 1994, mantendo o mesmo número de funcionários.

Número de funcionários por  "check out"  nos  20 maiores supermercados:  reduziram o número de funcionários em 15% após ganharem mercado. À medida que ganham mercado vai acontecendo a dominação.

Conclusões. Comportamento do nível de emprego nas 300 maiores redes de supermercados do Brasil: queda de 33% no número de funcionários das 20 maiores empresas do setor. Queda de 5% nas 280 maiores subseqüentes. As demais, provavelmente, mantiveram o mesmo número de funcionários. A base mantém o mesmo número de funcionários. As pequenas empresas não têm mais o que enxugar dentro do Brasil. O enxugamento delas é a ruptura dos pilares que é o trabalho. Não têm mais folga para nada. “Mais hipermercados, menos empregos. Há uma relação direta entre números de lojas de hipermercados e mortalidade de lojas menores, que são responsáveis pela maior parte dos empregos de uma comunidade”. Essas são conclusões das duas firmas que citei.

 Quanto aos exemplos europeu e americano: “Para cada loja do Walmart que abre nos Estados Unidos, fecham 50 outras lojas menores na vizinhança” - menores, considerando o porte deles. O Walmart é uma companhia competidora do Carrefour e está procurando uma área aqui em Porto Alegre na Av. Ipiranga. Então, o canibalismo ali vai ser um terror. Na França os resultados são similares para cada loja do Carrefour. Na França a construção de novas lojas de hipermercados está proibida. Alguns estados e cidades americanas proibiram a construção de lojas  Walmart. Tem mais o exemplo de Vermont, onde a Suprema Corte barrou esse propósito.

Nós fizemos, numa discussão que tivemos na Assis Brasil, uma série de condicionalidades  para a instalação desse empreendimento lá. Não vou lê-las, porque são condicionalidades de caráter econômico, social e ambiental, coisas indo para o lado das questões sociais, desemprego, etc. Quanto à questão do emprego, por exemplo: que esses empregos fossem para desempregados, e não empregar tirando funcionários dos outros que já estão instalados. Então empregados que estavam desempregados, 50%; empregos de primeira vez, 45% e empregos de deficientes físicos e idosos, que não têm vez em lugar nenhum, 5%.

Eu fiz, a lápis, um rascunho sobre a questão da empregabilidade nas dez empresas nacionais - a fonte é a suma econômica publicada pela ABRAS - : Carrefour, o maior faturador do Brasil, quatro bilhões, oitocentos e noventa e sete; Pão de Açúcar, três e quinhentos; Casa  Sendas, um e quinhentos; Bom Preço, um e duzentos e quarenta e sete; Paes Mendonça, um, zero, dez; Nacional - que é aqui do Rio Grande -, seiscentos e noventa e cinco; Supermart, seiscentos e cinqüenta e sete; Cia. Zaffari,  quinhentos e oitenta e oito, 12% do Carrefour;  Companhia Real de Distribuição,560 e Eldorado, 499. O Eldorado emprega 150% a mais do que o Carrefour, isto é, um funcionário do Carrefour e dois funcionários e meio do Eldorado. Eu falei na última vez que o Eldorado foi comprado pelo Carrefour. Portanto, haverá uma redução de 50 a 70% de funcionários no momento em que pegar o grau de racionalidade de suas empresas.

Nós teríamos, então, algumas propostas relativas a isso, que são condicionalidades, contrapartidas. Uma coisa muito importante em tudo isso é o que chamo de "economia criada". Como existe o "solo criado", há a "economia criada": os pontos históricos das zonas comerciais da Capital. Sobre a "economia criada": nós teríamos que disciplinar as questões da valoração dos pontos comerciais, da redistribuição, da maneira de manter isso, da maneira de tributar isso, que é a questão do "fundo de comércio". A questão do "fundo de comércio" ainda não está sendo tratada adequadamente. Parece-nos que, no momento em que ventilarmos uma possibilidade de estabelecer, como o "solo criado",  também a questão da "economia criada", haverá uma disciplina geral sobre isso, até como fonte de recuperação, de manutenção desses lugares, o que seria muito importante, como a fonte de renda para manter isso. É mais uma questão de tributação e etc. Poderemos ter uma idéia inicial para discutirmos oportunamente.  Agradeço a gentileza de todos e muito obrigado. (Palmas.)         

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estou recebendo a inscrição do meu amigo Henrique Gerchmann. Vou abrir tempo para V.Sa. tão logo esgotarmos as inscrições da Mesa.

O Secretário do Planejamento, Sr. Newton Burmeister, está com a palavra.

 

O SR. NEWTON BURMEISTER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais convidados, esta é uma boa oportunidade para trabalharmos alguns dos aspectos do chamado Desenvolvimento Urbano. Nós encaminhamos a esta Casa, no final do ano passado, a proposta de reavaliação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, dada pelo 2º Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. Oportunidade  houve de nós discutirmos vários aspectos do uso do solo da Cidade e de fazermos algumas reavaliações naqueles conceitos que se estabeleceram a partir de 1979, quando passou a viger o Plano Diretor - ainda hoje vigente.

Então nós estamos num momento de transição, de transição de legislação pelos aspectos de desafios urbanos que a Cidade propõe. A Cidade de Porto Alegre está num momento de inflexão, de mudança de “status” de Cidade, a partir de todas as situações evolutivas que os diversos segmentos apresentaram, mormente o que foi identificado pelo Presidente da Associação Brasileira de Supermercados, configurando os aspectos tendenciais setoriais. Esses aspectos acontecem com diversos setores da organização e da configuração urbana.

Um dos aspectos identificáveis nesse processo, especialmente no País, se dá pelo forte incremento do uso do transporte individual. Se nós pegarmos sinalizações dadas nesses últimos anos e, especialmente, a partir de 1970, Porto Alegre nesse período quintuplicou, ou quase sextuplicou, a quantidade de automóveis existentes. Então essa é uma situação setorial induzida pelo setor de produção e que tem repercussão sobre a Cidade. Não é diferenciado esse aspecto, creio, na economia - e não me atrevo a fazer essa análise, porque não é o meu território.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, apesar das suas defasagens decorrentes de eventuais faltas de monitoramento, ou as características que se configuraram na sua organização, passa a ser um plano regulador, muito mais do que um plano que analise o desenvolvimento urbano.

Então esses ajustes dos aspectos de legislação, sempre estão presentes do ponto de vista de sua necessária adequação às questões de impactos e situações de desenvolvimento urbano gerados pelas novas formatações de organização da produção.

O Plano Diretor atual trabalha com seus aspectos de condicionantes; analisa-se a característica da localização, acessibilidade, as questões de caráter urbanístico e ambientais na maioria das vezes. Ele não tem nenhum instrumento restritivo que impeça que existam equipamentos de mesma característica, próximos um do outro. A única exceção que houve foi com relação aos postos de gasolina na Cidade de Porto Alegre, que tinham, originalmente, uma restrição relativa à implantação desses equipamentos a partir de 500 metros um do outro. Isto vigeu até um determinado momento, depois ficou superada a situação pela própria dinâmica e característica ambiental.

Então trabalhamos com as condicionalidades urbanísticas, as questões de impacto ambientais e temos discutido, sem o necessário aprofundamento, ainda por ser uma matéria instigante, sob o ponto de vista do seu aspecto de novidade, que são os aspectos econômicos dos empreendimentos.

O que temos tido sobre a análise dos empreendimentos que se fazem na Cidade, independente do seu porte, mais especialmente aqueles de porte, é trabalharmos nos aspectos de implementação, dos aspectos induzidos por esses empreendimentos mediata e imediatamente.

É do conhecimento desta Casa, porque teve participação, a questão do “Cristal Shopping”, quando foram aqui discutidos os aspectos de modificação das características de índices urbanísticos a serem adotados, os serviços infra-estruturais implementados com  todas as suas repercussões, assim como ocorrem outras situações semelhantes nesse processo. Recordo uma situação ocorrida nos anos de 1989 e 1990, quando da implantação do “Praia de Belas Shopping Center”, em que houve a requisição por parte da Prefeitura Municipal, com relação aos serviços de infra-estrutura, especialmente viários, de abastecimento de água, de esgotos, sinalização de semáforos e outros, que tiveram de se completar com relação às suas induções geradas pelo equipamento. Não existe, pela própria característica da Lei, nenhuma situação de exame privilegiado para empreendimentos, porque o que está dando o procedimento da análise deles é o que dispõe o Plano Diretor. Entender-se privilegiada a situação seria superar o que a Lei diz e isso não ocorre. O novo Plano Diretor em discussão, futuramente nesta Casa, dá indicativos de selecionar projetos especiais e projetos de impacto, em que serão analisadas as repercussões de empreendimentos de porte na Cidade, através da análise  de um sistema de impactos urbanos que será objeto de aprofundamento e detalhamento, baseando-se naquilo que nós identificarmos como circunstâncias inovadoras no aspecto de organização urbana.

Quero ficar restrito a esses conceitos de caráter geral, sem entrar na situação de especificidade, porque não teríamos a oportunidade de fazer uma análise que transcendesse aquilo que já falei: o Plano Diretor, o que ele prevê, o que ele encaminha e de que forma.

Essas são as situações que eu desejaria expor preliminarmente e colocar-me à disposição para eventuais esclarecimentos.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  O Secretário Municipal da Indústria e Comércio, José Vianna Moraes está com a palavra.

 

O SR. JOSÉ VIANNA MORAES: (Saúda os presentes.)  Eu gostaria de tecer rapidamente alguns comentários em relação a esse tema, mas gostaria de iniciar dizendo que, ao assistir a apresentação do trabalho do Presidente Paulo Feijó, eu recordava um trabalho que tenho até hoje inconcluso, porque a minha dissertação de Mestrado tratava exatamente de demonstrar que a modernização no varejo de alimentos no Brasil não teve como conseqüência a redução de preços, a transferência do benefício dessa modernização para o consumidor final. O trabalho do Presidente Feijó demonstra que, além disso, também a concentração de mercado que foi uma decorrência, e que ainda se incrementa, desse processo de modernização, teve também como conseqüência uma redução nos postos de trabalho que o setor tem disponível. Trabalha a projeção agora na passagem dos supermercados para os hipermercados, numa época de redução  de 70 mil postos de trabalho, fora os que no próprio crescimento da rede de supermercados no Brasil já ocorreu. Isso é uma coisa bastante clara, fácil de se perceber na medida em que esta modernização teve como conseqüência uma concentração de mercado e a decorrência disso é que os ganhos de eficiência foram absorvidos pelas próprias empresas, e não transferidos na forma de redução de preço final para o consumidor.

Este tipo de debate atualiza, também, a questão da discussão do papel do Estado na economia, porque o que se vê nos últimos anos é a forte hegemonia dos conceitos neoliberais, que defendem que o Estado deve estar totalmente ausente da atividade econômica.

O que o trabalho do Presidente Feijó demonstra é a preocupação levantada inicialmente pela Associação dos Lojistas da Assis Brasil, é que com a livre concorrência tem, na realidade, como conseqüência, também um processo de concentração de capital. Este processo de concentração de capital traz uma concentração de mercado e a decorrência disso é uma redução da concorrência. Por isso nós sempre entendemos que o Estado  tem um papel tanto de fomentador da atividade econômica,  como tem claramente um papel de regulador. E foram dados inúmeros exemplos de como ele exerce esse papel de regulador no Primeiro Mundo. O Presidente Feijó colocou a questão da legislação na Espanha, em Portugal, na França, onde o Estado está claramente desempenhando o papel de regulador com o objetivo de permitir uma concorrência efetiva.

Por entender esta função e este papel de Estado é que a Prefeitura de Porto Alegre vem desenvolvendo, desde a gestão do ex-Prefeito Olívio Dutra, um plano de desenvolvimento econômico que trabalhou muito a vertente do fomento. Poderíamos pegar alguns exemplos simples, projetos como a Feira Modelo, que tem como objetivo intensificar na área de hortigranjeiros a concorrência; como a Feira do Material Escolar que, neste momento, está ocorrendo.

O que me parece que estamos vivendo, já, neste exato momento, é um novo ponto de reflexão no papel do Poder Público Municipal, e aí nesse caso quer o Legislativo, quer também o Executivo na Cidade de Porto Alegre, que passemos da ação, que a Prefeitura já está procurando desenvolver de fomentadora da atividade econômica, para efetivamente entrarmos também na regulação dessa atividade econômica. Ou seja, este momento é o de reconhecermos que a forma da gestão da Cidade com a qual se vem trabalhando tenha, no desenho urbano, o seu foco principal e tem que perceber a necessidade de incorporar outras variáveis como a própria dinâmica econômica que acaba se traduzindo nesse desenho econômico.

Portanto, esse tipo de dinâmica econômica precisa ser incorporada do ponto de vista da legislação municipal, onde hoje existem lacunas claras nesse aspecto, porque não se trata, como disse o Ver. Motta, de se ter uma posição onde se vá impedir a vinda desses capitais, pois são importantes para a Cidade, mas se trata de buscar mecanismos que permitam que se possa direcionar sobre os impactos econômicos provocados pela vinda desses equipamentos. Percebemos isto através de elementos muito claros na nossa própria Cidade. Por exemplo, se pegarmos a implantação do primeiro “shopping center” de Porto Alegre, o Iguatemi, que se localizou em uma região que naquela época ainda havia um vazio urbano significativo, o “Shopping Center Iguatemi” cumpriu com o papel indutor do desenvolvimento daquela região onde ele se instalou.

O “Shopping Center Praia de Belas” se instalou em um local já constituído da Cidade e teve como um dos principais efeitos levantados pelos empresários da Associação Nova Azenha,  uma redução significativa nos negócios que aconteciam no Centro Comercial, na região da Azenha, que é muito próxima do “Shopping Praia de Belas”.

Na realidade existem diferentes impactos e são esses diferentes impactos  que temos que buscar perceber, que temos que aprofundar a partir deste momento uma discussão para podermos criar regramentos específicos que possam potencializar impactos positivos e que possam coibir impactos negativos sobre a economia da Cidade e, conseqüentemente, sobre o seu próprio desenho urbano, o seu próprio desenvolvimento urbano.

Portanto o que eu gostaria, na verdade, é deixar colocado nesta intervenção, que parece que nós todos, a população de Porto Alegre, o Executivo e o Legislativo Municipal, estamos vivendo um momento privilegiado para aprofundar essa discussão e criarmos, de forma pioneira, pelo menos no nosso País, não em relação, talvez, aos países do 1º mundo, mas pelo menos, no nosso País, uma legislação que nos permita incorporar também os efeitos econômicos desses grandes empreendimentos que ocorrem na Cidade. Neste sentido, a própria Plenária Temática de Desenvolvimento Econômico e Tributação que ocorreu ontem, nesta Casa, uma reunião da primeira rodada do Orçamento Participativo,  já incorporou e está começando a desenvolver essa discussão  naquele fórum. Evidentemente que essa discussão deve se cruzar, na seqüência, com a própria discussão do Plano Diretor, que em breve estará em apreciação nesta Casa. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

 O SR. PRESIDENTE: Eu quero anunciar aos Srs. Vereadores que recebi do Sr. Paulo Feijó, Diretor-Presidente da ABAS um material sobre planejamento urbano e legislação da Itália, Espanha e Portugal. Vou colocar esse material a inteira disposição dos Srs. Vereadores que quiserem fazer consulta porque, acredito, será orientador para futuras discussões a respeito deste assunto.

 O Sr. Henrique Gerchmann, Diretor Financeiro do SINDILOJAS, está com a palavra.

 

O SR. HENRIQUE GERCHMANN: Sr. Presidente, amigo Luiz Braz, Srs. Componentes da Mesa, Srs. Vereadores, empresários e sindicalistas. Neste momento, nosso Presidente José Alceu Marconato está impossibilitado de comparecer a esta Sessão. O SINDILOJAS, hoje, tem um quadro composto por cerca de onze mil lojistas, por isso, não poderia deixar de comparecer a esta Casa, já que vivemos um dos momentos mais importantes de nossa existência na defesa do pequeno, do médio e do grande interesse lojístico. Sendo assim, o Presidente Marconato solicitou-me que fizesse a leitura de uma mensagem que é, também, à Câmara Municipal, que merece todo o nosso respeito. (Lê.)

"Porto Alegre, 10 de março de 1998.

As transformações ocorridas com a introdução do Plano de Estabilização Econômica causaram profundas alterações nas relações entre capital e trabalho. O desemprego, um fenômeno mundial, aprofundou-se de forma acentuada no País devido a dependência de capital internacional, aliado à existência em nosso meio de uma tecnologia amplamente superada. Diante desse quadro, e preocupado com o futuro das empresas do setor do comércio, o SINDILOJAS promoveu, no ano de 1997 um evento de proporções nacionais, onde o tema principal era a Globalização da Economia. Na oportunidade, o ex-Ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, já alertava para o fato de que as pequenas e médias empresas são a principal arma contra o desemprego. Por sua vez, o Diretor-Superintendente de Lojas Renner, José Galló, destacou o importante problema da inexistência de concorrência no Brasil - e nós já detectávamos concorrência em nível predatório no País -, enquanto o consultor de empresas Stephan Kanitz afirmava que a atenção ao consumidor popular é a melhor estratégia de venda. Isso é importante ressaltar. Já o SEBRAE revelava que a falta de lideranças é a responsável pela elevada taxa de mortalidade das empresas brasileiras e o economista Paulo Rabello de Castro garantia que a perda da competitividade é uma conseqüência do Drama Fiscal do Brasil.

Diante dessa ótica, entendemos que a atual política de juros altos, numa economia estabilizada e com inflação baixa, é a principal geradora de desemprego. Para reverter tal situação é necessário criar igualdade de condições em termos de financiamento, a fim de que as pequenas e médias empresas possam se defrontar com as grandes empresas - que obtêm recursos com juros em torno de 9% ao ano, com carência de 12 a 36 meses, enquanto as pequenas e médias têm acesso somente a taxas de 6%  ao mês. Com essa lógica perversa, o princípio de igualdade fica prejudicado e a concorrência desaparece.

Não há que se falar em reserva de mercado. Entretanto é indispensável ter-se em mente a necessidade de criar condições para evitar o completo desaparecimento das pequenas e médias empresas. Não existem soluções mágicas em economia, todos sabemos, mas é notório que a falta de condições de equilíbrio entre as diversas forças que compõem a atividade econômica é fator preponderante para a insolvência das empresas de menor porte. Sabemos que este é um ano eleitoral e que, muitas vezes, o poder político supera o próprio poder de mercado. Entendemos que a solução para viabilizar as pequenas e médias empresas do comércio passa pelas reformas administrativa, fiscal, tributária, da Previdência Social e, principalmente, por profundas reformas políticas.

Portanto, nada mais indicado do que iniciar esse tipo de discussão nesta Casa, digna representante do povo porto-alegrense, pela  extrema importância que os representantes da sociedade, em todos os níveis, terão nesse processo. Muito obrigado.

                                                     

                                                    José Alceu Marconatto.

                                                              Presidente."

 

(Não revisto pelo orador.)

O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao representante do Sindicato dos Comerciantes e Varejistas de Gêneros Alimentícios de Porto Alegre, Sr. João Francisco Micelli Vieira.

 

O SR. JOÃO FRANCISCO MICELLI VIEIRA: Sr. Presidente da Casa, Srs. Vereadores, Vereadoras, empresários e convidados. Queremos parabenizar esta Casa pela iniciativa de debater e legislar sobre a organização do comércio de nossa Cidade, o que será fundamental para a sobrevivência do pequeno e médio comerciante de Porto Alegre.

O meu nome é João Francisco Micelli e sou representante do segmento dos pequenos, micros e médios empresários do ramo de gêneros alimentícios em Porto Alegre.

Nosso Sindicato é formado por cinco empresas e mais de seis mil micro, pequenas e médias - supermercados, mercearias, açougues, padarias, que representam mais de 50% dos empregos gerados pelo setor.

No momento em que iniciamos essa discussão, não poderíamos deixar de manifestar a nossa preocupação com os anúncios da instalação de mais hipermercados - lojas com área de venda em torno de 10.000 m² - patrocinados por grandes redes internacionais que, pela sua capacidade de destruição, já são conhecidos no mundo inteiro como "arrasa quarteirões".

Nosso País vem enfrentando uma crise sem precedentes na nossa história, o desemprego, a inadimplência, os juros e a falência são os indicadores que apresentam os maiores índices de crescimento nesses últimos anos, o que nos leva a acreditar que chegou a hora, antes que seja tarde demais, de discutirmos com maior profundidade os investimentos que desejamos atrair, saindo das avaliações de curtíssimo prazo, pressionados por esses indicadores, para avaliarmos também os efeitos de médio e longo prazo.

Nesses últimos anos, assistimos a uma verdadeira corrida dos grandes grupos internacionais do comércio para a instalação de seus negócios nos países chamados emergentes. Por que será? É porque a maioria dos países tidos como desenvolvidos já proibiram a instalação desses estabelecimentos ou destinam áreas específicas para proteger o pequeno, médio e micro comerciante. Será que a Europa  não precisa  gerar novos empregos, Senhores? Será que nos Estados Unidos não há mais liberdade de comércio? Ou será que esses países já sentiram os efeitos negativos desses investimentos? Dados recentes demonstram que no setor de supermercados o segmento  de hipermercado é o que menos emprega pessoal na sua operação. Para vender o equivalente a um hipermercado com 10.000 m2 de área de venda que emprega, em média,  400 pessoas,  seriam  necessárias 10 lojas com área de venda  de 1.000 m2 e que empregariam em torno de mil trabalhadores, ou seja, mais do que o dobro de trabalhadores de um hipermercado, sem considerar o efeito negativo que, segundo estudos feitos pelos Estados Unidos e França,  para cada  hipermercado instalado, mais de  50 pequenos e médios estabelecimentos  fecham suas portas. Alguns têm defendido a instalação desses grandes grupos internacionais com o argumento de que isso aumentaria a concorrência e haveria uma redução nos preços, beneficiando, desse modo,  a comunidade em geral. Não podemos esquecer que esses grupos têm objetivo claro de tomar conta do mercado brasileiro e, segundo alguns especialistas do setor, em se mantendo a atual  tendência, até  o ano 2005,  70%  do varejo brasileiro estará nas mãos de grandes grupos internacionais, provocando uma grande concentração com efeitos muito negativos para a sociedade como um todo: consumidores, fornecedores, trabalhadores em geral.

Sem contar que vem se confirmando essa tendência em nosso País, e nossa Cidade corre o risco num futuro bem próximo de destinar para a sua população somente os salários, uma vez que os lucros serão remetidos para o exterior. Grande parte das empresas hoje estabelecidas em nossa Cidade contribuíram significativamente para o desenvolvimento  de suas regiões,  muitas das quais dedicaram quase  toda a sua vida ao desenvolvimento dos seus  negócios e dos bairros onde estão instaladas,  e agora que essas regiões se tornaram centros atrativos para  o comércio, entregamos esses locais para os grandes grupos estrangeiros, condenando esses pequenos, micros, médios comerciantes a engrossar a fila dos desempregados; não esquecendo que ser comerciante não é profissão, pois tudo o que esses  homens sabem fazer é administrar o  seu negócio. A situação é muito grave e, se não forem tomadas medidas urgentes capazes de organizarem o comércio de Porto Alegre, proporcionando condições de convivência aos pequenos, micros, médios, grandes e megainvestimentos, teremos conseqüências  indesejáveis num prazo muito curto e,  o que é pior, sem volta.

Não somos contra os grandes investimentos, nem contra o capital estrangeiro, mas queremos um Plano Diretor capaz de controlar e direcionar esses investimentos, de modo que contribuam para o desenvolvimento da nossa Cidade e proporcionem uma concorrência saudável, beneficiando a  comunidade como um todo, a exemplo do que aconteceu com a instalação do DC Navegantes que, instalado numa área carente, proporcionou novas oportunidades aos consumidores porto-alegrenses e contribui para o desenvolvimento daquela região, como também será com a instalação do “Cristal Shopping”.

Portanto, Sr. Presidente e demais Pares desta Casa, esta é a Casa das grandes decisões do povo e, nesta Casa, esperamos realmente que essas decisões - que são 100% da representação de toda a população de Porto Alegre - possam realmente ser levadas a contento; pensarmos o que queremos de desenvolvimento e o que precisamos de desenvolvimento, analisando com profundidade todos os fatos que em cima dos dados levantados por todos que aqui se apresentaram poderão gerar no futuro. Queremos investimentos que venham enriquecer a nossa Cidade, melhorar o perfil do nosso trabalhador, ou queremos  investimentos que venham a arrasar com aquele que deu a sua vida aqui, gerando a riqueza e a prosperidade desta Cidade. Muito obrigado, Sr. Presidente e Srs. Vereadores.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a palavra.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Há oito dias, quando o Sr. Waldir  Bronzatto usava a Tribuna Popular, eu dizia que, nos oitos anos que este instrumento previsto na Lei Orgânica - art. 100 -  foi  utilizado, foi o pronunciamento mais importante. Importante  porque dizia  respeito à vida econômica da Cidade, mas  transcendia à Cidade, vai ao Estado e à União também. E importante porque, de repente,  a Câmara já fazia trabalhos nesse sentido e eles não estavam organizados, não estavam  estruturados. A minha Bancada formada por mim, pelo Ver. João Carlos Nedel e Ver. Pedro Américo Leal, vinha estudando o problema. O Ver. Luiz Braz tinha um projeto proibindo a instalação de comércio além de determinada área, e este projeto está parado, provavelmente está arquivado, vamos desarquivá-lo, e me trouxe à memória o que aconteceu. O Prefeito Guilherme Socias Villela, num ato de coragem inaudita, por decreto, impediu que bancos se instalassem. Vemos, com o que nos trouxeram hoje o Paulo Afonso Feijó e Waldir Bronzatto, que os países europeus, mais atentos do que nós, já estavam limitando as atividades dos hipermercados, porque constatavam desemprego e a dificuldade em oferecer vantagens aos consumidores.

O Ver. João Motta, que inteligentemente pediu a realização desta Sessão Especial, lembrou a figura do grande Prefeito Guilherme Socias Villela. Apenas houve um pequeno equívoco na informação que ele trouxe, mas na área central no andar térreo, e foi uma medida, realmente, extremamente, corajosa, que só poderia partir de um homem com convicções profundas, para poder fazer o que fez. Hoje está no Plano Diretor, não é mais um decreto.

O nosso Secretário da Indústria e Comércio falou do papel regulador do Estado nas atividades econômicas, o que é importante. Segunda-feira passada dizíamos da tribuna, depois de ouvirmos o Sr. Waldir Bronzatto, que é chegado o momento de equacionar em definitivo este problema no Plano Diretor, mas enquanto o Plano Diretor vai levar algum tempo, talvez todo este ano, nós não podemos esperar. Se fez por decreto, todos na Câmara, entendendo a necessidade de organizar-se esse setor para o interesse do porto-alegrense, para o interesse da vida econômica da Cidade, nós podemos fazer um projeto com extrema urgência, urgência-urgentíssima, proibindo novas expansões enquanto não for definido no Plano Diretor que vem aí. Essa é a proposição que a minha Bancada faz: um Projeto de Lei, com urgência-urgentíssima, para que se determine o estancamento de expansão, exatamente como fizeram países como a Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Alemanha, Inglaterra. E se fizeram, foi porque tinham mais tempo de vida que nós temos, muito mais experiência do que nós temos, e a experiência deve ser sempre utilizada. Essa é a proposição que nós fazemos, de um Projeto de Lei, a partir desta reunião que hoje se realiza aqui, com bastante sucesso, para que a Cidade possa ganhar. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Só porque o Ver. João Dib fez referência ao Projeto que está tramitando na Casa, e que está arquivado, ele quer proibir construções com mais de cinco mil metros. Mas acredito que essa discussão morre e renasce uma outra a partir desta reunião de hoje.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nossos convidados desta tarde, antes de mais nada, quero fazer um registro preliminar que julgo fundamental. Esta Casa, neste debate, vive um dos seus grandes momentos, um de seus grandes dias, porque traz, no âmbito da competência do Município, no seio de uma discussão de natureza urbanística, inserido no contexto do arquiteto Burmeister, uma posição que envolve posicionamentos de natureza político-ideológica, divisões, não digo ideológico, mas de concepções a respeito do papel da natureza do Estado, como salientou o Secretário da SMIC, e o seu papel regulador, controlador dentro do processo econômico. É uma discussão eu diria, infindada, ela  coincidiu no meio de realidades do concreto, do nosso cotidiano, da vida presente que se dá na nossa Cidade. Quero dizer que nós estamos vivendo na Cidade de Porto Alegre um momento muito "sui generis", porque ao lado das dificuldades econômicas que o País atravessa, em função de uma política de recessão de controle salarial muito grande, ao lado disso se observa o interesse de grupos empreendedores dentro da Cidade em obras privadas, em obras públicas, exemplo disso na área privada ,“Shopping Cristal”, Projeto Hermes, na área pública, a própria Pista de Eventos é uma realidade também dentro deste contexto. E agora a implantação desse Projeto do Carrefour. 

Realmente é paradoxal, porque nós poderíamos pensar que no meio dessa crise, dessa dificuldade, os investidores querem vir aqui se instalar, se implantar. É curioso esse clima que nós vivemos no contexto de Porto Alegre, que é um pedaço, é uma parte desse todo no nosso País. Ele é uma expressão certamente do contexto de outras cidades brasileiras. Ainda esta semana uma revista de circulação nacional, refere a preferência das pessoas que começam um processo muito curioso e de fortalecimento das próprias cidades do interior, onde começa ter de um lado, mais qualidade de vida, mas de outro lado a dificuldade, sobretudo, pela questão do emprego. Curiosamente cito aqui o exemplo, há um ano atrás um supermercado na Cidade de São Borja fechou, literalmente um grande espaço de dois mil metros quadrados, o Supermercado Perim, de bom padrão, ficou um ano fechado. Agora neste momento, se implantou lá na Cidade - o que mostra que há mercado, porque do contrário não iria para lá - o Supermercado Nacional, nesse mesmo espaço. Então um grupo que tem um perfil estadual, ele ocupou um espaço de um grupo mais localizado daquela Cidade. Isso é só um registro que eu faço, em termos de consideração, da dificuldade de compreensão de todo esse complexo que estamos vivendo.

Coloco-me numa posição de um homem de centro-esquerda, dentro de uma visão da compreensão. Eu não tenho preconceito e sei que muitos companheiros do PT não têm mais preconceito com absolutamente nada. Nós estamos dispostos a discutir todas as questões, sem preconceito. Por exemplo, a questão do capital estrangeiro. Não tem mais aquele clima de xenofobia de dizer que é capital estrangeiro. Mudou realmente esse perfil, mesmo dentro dos setores da esquerda brasileira, posso dizer isso com absoluta tranqüilidade.

Mas a grande questão que se coloca é que primeiro eles começam a ter interesse por algo que abandonaram e sucatearam em nosso País, por exemplo, telecomunicações e energia. Eles deixaram o País, na década de 50 e 60, completamente desinteressado. De repente passou a ser um grande negócio e retomaram o seu interesse. Compraram, entraram no mercado e estão enfrentando tantas dificuldades, quanto aquelas que o setor público vinha enfrentando e, talvez, esteja enfrentando algumas situações sem aquela competência que deveriam ter.

Sei das limitações de tempo, Sr. Presidente, e vou encerrar, infelizmente, ainda num espaço introdutório às minhas considerações. Finalizando, sinteticamente, afirmo que é fundamental buscarmos uma equação. Vejam a contradição, o Secretário de Planejamento tem a obrigação de trabalhar, e eu compreendo, com os licenciamentos à luz do direito positivo, ou seja, ele trabalha com conceitos ali presentes. Ele autorizou o Projeto Hermes, queira ou não, dentro da Lei, inclusive numa área que estava sujeita a IPTU progressivo. O IPTU que em seis anos transforma uma área que não tem projeto,  numa área que passa ao poder público. Essa é a realidade do IPTU progressivo aprovado por esta Casa. Então, Sr. Presidente, ele trabalha com direito positivo. De outro lado, nós temos a realidade econômica que deve condicionar, também, os nossos posicionamentos. E eu acho um argumento muito denso e muito pesado que foi trazido pelo Presidente do Sindicato do Comércio Varejista, quando ele afirma que os grupos que estão aqui implantados não são reserva de mercado. Divirjo um pouco da posição do Dr. Paulo Feijó, não é reserva de mercado, mas eles têm uma história de inserção e estão, aqui, normalmente, para ficar e fazer os seus investimentos dentro do Rio Grande. Isso deve-nos dar uma preocupação. Enquanto esses outros grupos vêm para cá, implantam-se, fazem uma concorrência altamente corrosiva e, depois, tomam conta do mercado. Evidentemente, temos que ter legislação para poder enfrentar isso. 

Eu tinha também essa proposição que o Ver. João Dib sugeriu, de que a Câmara fizesse e aprovasse com urgência um Projeto de Lei para que sustássemos, de repente, até o final do ano, qualquer aprovação de projeto. Até porque não vivemos mais no período do autoritarismo. O Prefeito Villela, meu amigo, pôde fazer isso por decreto, mas era outra época, quando se podia fazer isso por decreto. Nós estamos dispostos a participar de um esforço conjunto com a sociedade civil, com os setores empresariais. Vou dizer mais: os últimos investimentos e empreendimentos - digo isso com a mais absoluta tranqüilidade - foram trazidos muito mais por investimentos da iniciativa privada do que por investimentos da iniciativa pública. Cito, como exemplo, o “Shopping Iguatemi”, que acabou transformando aquela área em uma área de grande desenvolvimento. E poderia citar outros pontos, pela ausência nos últimos anos de investimentos públicos maiores em termos de urbanização da Cidade.

Temos uma área que nos preocupa muito: a Av. Voluntários da Pátria e toda a Navegantes, em direção ao 4º Distrito, que é uma área totalmente urbanizada, com infra-estrutura, onde devemos buscar um perfil de desenvolvimento, inclusive residencial, para toda aquela área, à luz do novo Plano Diretor, que é fundamental.

Portanto, encerro, Sr. Presidente, dizendo que o caminho - quem sabe - seja exatamente este: o  de sustar, por hora, todos esses projetos, através de uma lei, como foi sugerido.

Mas se o  Prefeito Villela teve aspectos que eu aplaudo, o Plano Diretor de 1979 é muito responsável pelo entravamento do desenvolvimento econômico-social desta Cidade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, eu acho que se fosse discutir em cima do discurso do nobre Vereador, teríamos várias questões a colocar. Até porque o Plano Diretor que a Cidade tem hoje é um dos melhores do País, e nós estamos fazendo um aperfeiçoamento para melhorá-lo mais ainda. Mas a história do planejamento urbano em Porto Alegre, os Planos Diretores nunca foram inimigos da Cidade. O que existem são deficiências, problemas a serem ajustados.

Nós queremos cumprimentar todos os Senhores, os nossos dois Secretários, Newton Burmeister e José  Luiz  Moraes, o Presidente, o Secretário da Mesa e os empresários que estão aqui hoje.

Nós já estamos, há alguns meses, trabalhando com este Projeto, com esta questão. Conversamos, há pouco tempo, com o Sr. Waldir Bronzatto e com alguns empresários da área de supermercados e de “shoppings”. Agora estamos ouvindo, aqui, depoimentos importantíssimos dessa área do comércio e também dos pequenos comerciantes: o SINDILOJAS, o Sindicato dos Comerciários, Sr. Francisco Vieira, e o  Presidente, Paulo Feijó.

Então são depoimentos que vêm na mesma linha, que são coincidentes. E nós também achamos que é importante, num momento como este, que não descolemos o efeito da causa de todo um processo que está acontecendo com o nosso País, e Porto Alegre não é diferente.

Aliás, Porto Alegre chama - porque grandes capitais chamam investidores - pois possui infra-estrutura melhor do que a maioria das capitais brasileiras. Isso, ao natural, é um motivo de orgulho para nós.

Mas, ao mesmo tempo, acontecem questões como esta, por falta de - nas palavras do Sr. Bronzatto, que eu concordo - uma proposta de urbanismo econômico, ou seja, uma divisão de legislação que inclua no Plano Diretor alguma noção de zoneamento de uso, em função das necessidades, vocações e todos os aspectos que são pertinentes a uma região urbanizada.

Nós temos em mãos, há alguns meses, legislações da Itália, de Portugal, da Espanha e da França, e estamos sugerindo que, na discussão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, que está reiniciando na Câmara, pois já teve um rápido período no ano passado, possamos, com a colaboração do Executivo, achar uma forma de introduzir, no Plano Diretor, matéria sobre o assunto. Tenho algumas sugestões em elaboração e acho que seria uma das formas ou, então, uma legislação específica.

Por outro lado, achamos que é altamente meritória a  colocação do Ver. João Dib quando diz que é meritória a proposta do Governo Villela por ter feito uma legislação e não decreto. Inicialmente foi um decreto que, depois, passou a ser lei. Porque não havia como fazer aquela incisão no meio urbano sem que houvesse uma legislação e, depois, em 89, nós a aperfeiçoamos. Ela falava em proibição genérica; depois, fizemos uma legislação que admitia que até 20% das testadas de cada quarteirão pudesse ter estabelecimentos da área financeira, uma vez que era uma forma de incidir sobre o processo.

Então não há por que não fazermos uma legislação para essa área econômica. Se nas cidades-origens desses capitais é proibido, porque aqui não poderá ser? Não vamos proibir que eles venham, mas poder-se-ão instalar nas áreas apropriadas, em lugares condizentes com esse tipo de megaempreendimento - na maior parte deles. Por outro lado, existe uma questão que está em discussão agora. Hoje pela manhã, nós, Vereadores da Bancada do Partido dos Trabalhadores, em reunião com o Prefeito, vimos a preocupação que ele tem para que haja legislações condizentes. Porque a Prefeitura não tem mais o que fazer do que exigências do ponto de vista arquitetônico, urbanístico, espacial, que é o que a legislação permite.

Fico preocupado com o investimento que está sendo proposto na área do Febernatti, ali, na Volta do Guerino, uma vez que temos um investimento semelhante, de mesmo porte, a quatro quarteirões adiante, que está em construção; que já é motivo de criação de problemas para os pequenos e microempresários em uma área que tem uma tradição enorme de atendimento ao pequeno e médio comércio da Região Metropolitana, principalmente pendendo para a Zona Norte e Nordeste. Quero, então, trazer o depoimento de quem está, como arquiteto e como Vereador, estudando a questão, no sentido de tentar ajudar também a sua parte. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Adeli Sell.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os demais presentes.) Como já disse o Ver. Isaac Ainhorn, nós não temos preconceito em discutir qualquer tema, e também não queremos discutir, aqui, sobre o tamanho de um empreendimento ou outro, sobre grandes e pequenos. Discute-se, fundamentalmente, qual é o projeto, qual é o tipo de desenvolvimento que queremos para uma cidade como Porto Alegre, para o Estado e para o País. Pergunto se um empreendimento do porte e  características mencionadas do Carrefour compraria o nosso pêssego, a ameixa, a uva ou a alface produzidos na Vila Nova, no Belém Velho ou no Lami, ou ele vai comprar de outro grande empreendedor, trazendo até o produto de São Paulo, em vez de consumir um produto local? Pergunto, também, se no ramo de laticínios esse grande empreendimento comprará o leite da Cooperativa de Rolante, a nata, a manteiga e o leite de uma pequena empresa com a marca "Deleite", lá de Sede Nova, na região Celeiro, ou vai comprar da Parmalat, que liquida com os pequenos produtores, porque não compra de quem produz menos de 50 litros de leite, enquanto a Cooperativa de Rolante, e a marca "Deleite", de Sede Nova, compram de quem produz 10, 15, 20 ou 30 litros de leite e, portanto, sustentam o pequeno produtor? Essa é a verdadeira discussão que temos que fazer: qual a cadeia que nós vamos propor de sustentação da economia na nossa Cidade, no nosso Estado e no País? Temos que discutir, também, a questão do desemprego. Nós não somos daqueles que defendem a incompetência; não somos daqueles que defendem a volta da história de, em vez de produzir um carro de alta qualidade, com "air bag", querer a volta da antiga fábrica de carroças da Vila Flores. Evidentemente que não. Nós queremos uma modernidade que inclua, e não que exclua. Queremos todos os benefícios que a humanidade alcançou em qualquer parte do  planeta, mas que  sirva para um milhão e quinhentas mil pessoas de Porto Alegre, e não para uma minoria que pode adquirir determinado produto.  Dessa maneira nós devemos tentar pensar na nossa Cidade para que ela se descentralize, para que ela crie centros de bairros, como é o caso da Azenha, como é o caso da Cristóvão Colombo, da Benjamin Constant, do Passo d' Areia. Ou vamos cair em uma discussão falsa entre grande e pequeno e não vamos chegar a lugar nenhum.

Inclusive, falando em grandes, precisamos às vezes, e no caso de Porto Alegre, se nós queremos uma Cidade que se transforme no centro turístico do  MERCOSUL, precisamos de um grande hotel ou de alguns bons e melhores hotéis do que temos hoje na Cidade. Ou não? Sim. Se houver um empreendedor ousado, dinâmico, que queira chegar aqui e fazer esse tipo de empreendimento, eu tenho certeza de que a começar pelo Poder Público Municipal, Executivo e nós, do Legislativo, vamos discutir, vamos apoiar. Agora, concomitantemente a um hotel de luxo de primeira grandeza, nós queremos pequenos hotéis-fazenda na Zona Sul, para desenvolver aquela região. Porque nós também queremos desenvolver aquela região, dando condições de ter tecnologia para lá continuar a produzir aqueles produtos agrícolas, a nossa verdura. Para que o agricultor possa trazer a um supermercado mais próximo do seu local de produção, daquele centro de pessoas que lá convivem, inclusive já com alguns condomínios, com algumas regiões mais habitadas, porque é muito mais fácil e o transporte é mais rápido, mais perto e não ficamos na dependência de grandes CEASAs. Ou - vou citar um outro exemplo - que se incentive - e temos que incentivar, eu estou fazendo um pronunciamento aqui , mas quero fazer isso mais detalhadamente para o Secretário da SMIC - a produção de flores, com cursos, na nossa Cidade, porque estamos importando da Colômbia e de São Paulo, quando poderia ser produzido aqui, na própria Cidade de Porto Alegre. Então trata-se de discutirmos um desenvolvimento integrado, harmônico e,  dessa maneira, estaremos fazendo o verdadeiro debate, e não fazendo uma discussão esquizofrênica de “a” ou “b”. Mas precisamos tomar um lado. Eu tenho um lado nessa discussão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)   

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Elói Guimarães está com a palavra.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Quero cumprimentar as lideranças empresariais pelas opiniões, conceitos, subsídios e dados que trouxeram a este encontro. Já havíamos, na reunião passada, cumprimentado o Sr. Waldir Brozatto pelos subsídios e dados trazidos e fazemos da mesma forma ao Dr. Paulo Feijó, e demais pessoas que fizeram aqui as suas intervenções.

Entendemos que o debate é transcendental e a questão é até nacional. As ocorrências que se dão aqui em Porto Alegre, por certo, se dão em todos os estados e capitais brasileiras e, por certo, em diversas partes do mundo - os gráficos trazidos mostram esta realidade.  O que se discute e entra na formulação do debate? Qual o papel do Estado na coordenação e no gerenciamento do processo global? Qual o papel da sociedade na intervenção via Estado estabelecendo as relações no concerto social?

Nós, num primeiro momento, discutimos a ponta do sistema, mas parece-me que também temos que discutir as causas que determinam a que cheguemos às verdadeiras metrificações de áreas, como aqui foi colocado, onde se opera a economia, através do aspecto do abastecimento.

 Nós, evidentemente, temos uma fração de poder. O Município detém uma fração de poder e haverá de exercer isso. Estamos vivendo um momento próprio, adequado e oportuno, no momento em que vamos trabalhar, talvez no melhor, no mais adequado instrumento para tentar estabelecer algumas regras capazes de colocar em prática aquela visão que, parece-me, está havendo neste debate. E ficou claro, é uma unanimidade: todos nós proclamamos aqui as nossas objeções à concentração de poder. A concentração de poder na área econômica gera o monopólio, a concentração de poder na área política gera a ditadura, e ambas degeneram nos seus mais diferentes aspectos.

Então se trata de uma questão extremamente importante e de dimensões que diz até com determinadas posturas, até no campo ideológico, que é onde nós temos que prestigiar o poder regulador. E quando os dados são trazidos nessa dimensão, ficamos a nos perguntar que tragédia para a sociedade, quando, no momento em que desaparece o poder social, que é capaz de estabelecer as mais diferentes relações para o conjunto da sociedade.

Ficam aqui as nossas preocupações que há algum tempo já havíamos externado, em diferentes oportunidades, com esses megainvestimentos. Porque a própria experiência vivenciada aqui em Porto Alegre nos indicava isso, pois esses grandes investimentos transformaram-se, e vêm-se transformando, em esponjas sugadoras de toda uma cadeia de atividades - o que já está sendo demonstrado pelos dados do Bronzatto: investimentos esses que retiram tributos, receita pública, mão-de-obra.

E também há aquela questão que colocou aqui o Presidente da ABRAS: isso se transforma em benefício ao consumidor? A realidade tem demonstrado que essas grandes concentrações de poder no campo do abastecimento não têm dado aquela resposta que até justificaria a sua existência.

Então essas concentrações de poder têm levado - antes pelo contrário - a situações a que nós estamos assistindo hoje, onde há essa competição que, pela fragilidade do Estado, não assegura as condições de igualdade para competir. Então, eu acho que estamos vivendo no momento oportuno esse debate que deverá prosseguir.

Eu dizia, quando fazíamos a primeira intervenção, que temos de nos constituir num foro permanente para que todo esse debate, essa discussão, comece a produzir material para que nós possamos inocular, colocar dentro desse instrumento que se chama Plano Diretor. Acho que é o momento oportuno, evidentemente, resguardados os limites do nosso espaço, que são frações de poder. Isso não se limitará à intervenção do Município, porque isso não resolverá a questão, pois é uma questão transcendental, é um debate nacional, que se deverá fazer em torno disso para ver que desenvolvimento, que tipo de modelo  de desenvolvimento nós queremos para a questão do abastecimento.

Todas são questões importantes que devem, a partir de agora, começar a trazer subsídios para que possamos conceber a Lei mais importante que vai se fazer no Município de Porto Alegre, que é o Plano Diretor. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Juarez Pinheiro está com a palavra.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, inicialmente, fazer três preliminares que me parecem importantes. A primeira é saudar a iniciativa do Ver. João Motta de propor a esta Casa Legislativa um tema de tamanha importância. O Ver. João Motta ratifica, mais uma vez, a sua trajetória de um parlamentar sério e preocupado com os grandes temas, não só desta Cidade como de todo o País.

A segunda preliminar é para fazer um pequeno reparo, que foi, possivelmente, por falta de protocolo - isso fica só nesse patamar, mas quero fazer o registro. Na verdade esse tema vem sendo discutido na região Norte da Cidade e o Conselho Popular da Assis Brasil tem feito inúmeras reuniões entre a comunidade e, também, com autoridades do Município. Possivelmente, teria sido interessante - por isso eu digo que foi problema de protocolo - que eles aqui também estivessem presentes e pudessem expor a sua visão sobre questão tão importante, mas o Sr. Pedro que está presente aqui informa que vai requerer, regimentalmente, um espaço na Tribuna Popular. Proponho, inclusive, que seja em uma Sessão Solene, ou em um espaço dessa ordem, para que também, nós Vereadores,  possamos  ouvir a opinião dos moradores da Região Norte da Cidade.

Tenho aqui a informação de que, especificamente, com relação à questão do Carrefour, estão se posicionando favoravelmente à sua instalação, pelo menos por ora. Eu não estou emitindo o meu juízo de valor, mas, simplesmente, aproveitando a oportunidade para traduzir a disposição daquela comunidade. Este debate não pode, de forma alguma, se cingir - e nenhum dos palestrantes aqui que usaram a tribuna por um tempo mais longo, nossos convidados, para a nossa honra, se cingiram - à questão do Carrefour. Esse é um tema de transcendental importância. E quando falamos aqui sobre a possibilidade de erigirmos uma legislação para o Município proibir esses megainvestimentos, quero trazer uma denúncia aqui, Ver. Elói Guimarães - que também se preocupa muito com esses temas, extremamente sérios -, que a mídia deste País, que os partidos, mesmo do campo democrático popular, o meu partido, para ser mais exato, não têm feito a discussão, e que tem uma nicagem absoluta com a questão que estamos discutindo aqui, que se refere a um acordo que está sendo celebrado entre os 29 países mais ricos do mundo, membros da OCDE(Organização para o Desenvolvimento Econômico), no âmbito da Organização Mundial do Comércio, que visam a colocar as multinacionais acima dos países, acima das nações, e vejam que o Brasil está para assinar esse documento. A previsão inicial era de que isso fosse assinado no mês de abril. Os reflexos seriam não só para os membros da OCDE, que são os países mais ricos do mundo, mas para todos e, principalmente para os países periféricos, como é o caso do Brasil. E não vemos uma linha de discussão sobre acordo tão importante. Esse acordo faz com que praticamente os estados nacionais desapareçam e as multinacionais fiquem em um patamar acima.

Vejam bem, no país que colocar uma regra de restrição à movimentação de capital ou a investimentos, haverá um tribunal - na proposição que está colocada - para punir esse país. Então, nesse caso, se isso fosse assinado, seria uma barbaridade. As ONGs do mundo inteiro estão unindo-se contra esse instrumento, contra a sua assinatura. Se ele fosse assinado, a legislação que fizéssemos em nível de Porto Alegre,  não teria efeito. Isso é um absurdo que por certo a consciência democrática, não só do Brasil, mas dos povos democráticos, vai fazer com que isso seja inviabilizado. É uma legislação supranacional e com um tribunal para punir aquele país.

Eu  trouxe à colação esse assunto, que é da maior seriedade para a vida dos porto-alegrenses e de todos os brasileiros. Isso não tem nada de partidário. A questão colocada mostra bem a importância do tema que estamos discutindo. Na verdade, o modelo neoliberal, hegemônico, hoje, tem na globalização um dos seus principais instrumentos. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Henrique Fontana está com a palavra.

 

O SR. HENRIQUE FONTANA:  Senhor Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os presentes.) Eu gostaria de fazer algumas reflexões e colocar um posicionamento pessoal, e tenho certeza de que, em grande medida, um posicionamento também partidário.

Entendemos que a discussão que se está travando hoje à tarde, e que iniciou em outra ocasião aqui na Câmara, é extremamente oportuna porque propõe - e precisamos assumir isso com clareza - que se definam mecanismos de proteção para o pequeno e médio capital, para o pequeno e médio empreendedor, numa disputa que ele enfrenta contra o megaempreendedor, onde, sem esses mecanismos de proteção, não se garante aquela premissa fundamental que o Dr. Feijó colocava, que se chama "igualdade de oportunidades".

Estamos vivendo um período em nosso País em nível global, onde o mundo, especialmente o Brasil, anda um pouco embriagado com aquilo que eu chamaria "um certo fundamentalismo de mercado", porque quando se fala que todos têm que competir contra todos e que o Estado - legítimo representante da vontade coletiva - não deve interferir nesses mecanismos, nós estamos assumindo um fundamentalismo de mercado que não se sustenta na vida real, porque se não houver uma intervenção do Estado ... Estado esse que nós, falando em nome do PT, entendemos  eficiente, democratizado, um Estado efetivamente controlado por toda a sociedade e que deve interferir na esfera econômica, em benefício da maioria da sociedade. Especialmente em  benefício dos mais fracos, que não têm condições de competir com a chamada igualdade e oportunidade com os grandes capitais. Um exemplo, que por si só seria suficiente para dar razão a esta iniciativa que a Câmara está tomando e que certamente vai ser acompanhada pelo Poder Executivo, é o que  Presidente da  ABRAS colocou: o custo financeiro. Alguns grandes empreendedores conseguem mecanismos de financiamento com valores de juros absolutamente diferenciados em relação aos pequenos e médios empreendedores. Então que competição é esta que é proposta em nível de um determinado conceito de globalização?

As palavras podem servir, muitas vezes, como meros estandartes e não se entende o que está por trás delas. Todos nós temos interesse em que haja relações internacionais. Mas estas relações internacionais não podem ser feitas de tal maneira que beneficiem os mais poderosos e prejudiquem os mais frágeis. O papel daqueles que querem uma sociedade igualitária, com outro conceito de justiça, é exatamente legislar no sentido de que se evite esta concorrência, que nós chamamos de predatória. A concorrência não é sempre positiva, em alguns momentos ela pode ser predatória e pode ser injusta. Isto que nós estamos discutindo - temos que dizer sem nenhuma vergonha -, nós estamos discutindo mecanismos de proteção e mecanismo de regulamentação. Outra palavra mágica que tem surgido neste País, e nós temos ouvido com muita freqüência, é a palavra chamada desregulamentação. Ela é proposta tanto para o trânsito de capitais, como, também, para as condições de trabalho. E se diz que, quanto mais se desregulamentar, melhor será a sociedade, porque ditos mecanismos livres levariam a sociedade, naturalmente, a uma posição mais justa. Só que a prática concreta que os empresários trouxeram hoje para nós, e que nós lemos todos os dias, não é essa. Termina havendo uma megaconcentração de capitais e uma megaexclusão, também, da população, do outro lado desta moeda.

Vamos estudar com calma qual a melhor legislação; não podemos nos afobar,  aprovando qualquer legislação, mas, sim, mecanismos de proteção que visem garantir mecanismos bem colocados, como estes que ocorrem na área supermercadista e em outras áreas, como a da indústria automobilística. Se nós compararmos os números da Volkswagen de 1979 para 1995 - dados que eu tenho -, a despeito de um aumento da produção de automóveis, esta indústria empregava 45 mil pessoas em 79 e, em 95, empregava quase a metade: vinte e cinco mil pessoas. Essa é uma pseudo modernização. Temos que ter o cuidado de construir uma alternativa de modernização efetiva para a sociedade.

Encerro fazendo uma comparação que me é muito cara, porque é da área da saúde. Não se trata de uma competição entre megaempresários ou pequenos e médios empresários, mas uma comparação entre público e o privado. Às vezes, a racionalidade micro pode não representar a racionalidade macro, ou seja, aquilo que é racional do ponto de vista individual, pode não ser racional  do ponto de vista coletivo. Um exemplo na área de saúde é quando se privatiza um serviço de ecografia em determinada cidade ou região do País. Podemos até produzir uma ecografia  a um custo unitário, individual, mais barato, mas os estudos comprovam que se gasta mais em ecografias, porque há indicação indevida de ecografias pelo interesse de compra e venda em uma área onde não pode haver esse interesse.

Estou extremamente contente, porque, como colocou o Ver. João Dib quando aquela Tribuna Popular trouxe esse tema, e sentimos a magnitude que pode ter a intervenção dos Poderes Legislativo e Executivo. Este tema que estamos hoje discutindo diz bem como a sociedade precisa refletir e decidir melhor sobre o futuro que quer construir.

Este Vereador vai se dedicar de corpo e alma a este debate e à legislação que pretendemos  produzir nesta Casa.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR PRESIDENTE: O Ver. Paulo Brum está com a palavra.

 

O SR. PAULO BRUM: (Cumprimenta os componentes da Mesa.) Queremos saudar a iniciativa do Ver. João Motta e, também, o Sr. Waldir Bronzatto, que em Tribuna Popular trouxe este debate à Casa.

Com certeza, Sr. Presidente, o problema é grave e cabe a nós, Vereadores, buscar uma solução.

Em nome da  Bancada  do PTB, que é a segunda Bancada em representação  nesta Casa, queremos, de antemão, nos somar às proposições já apresentadas pelo Ver. João Dib, Ver. João Motta e outros Vereadores que nos antecederam. Que esta Casa busque, de imediato, um projeto de lei, para  solucionarmos  o problema apresentado.

Penso que, de imediato, se suste toda e qualquer construção para que, com a aprovação do Plano Diretor, se ditem os mecanismos que irão regulamentar o mercado de Porto Alegre. Por isso, Sr. Paulo Feijó, senhores representantes, levem a certeza de que o PTB se soma a esta preocupação para buscarmos, de imediato, uma solução para o grave problema apresentado a esta Casa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Anamaria Negroni está com a palavra.

 

A SRA. ANAMARIA NEGRONI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Parabenizo o Ver. João Motta pela bela iniciativa. A preocupação do Ver. João Motta e da maioria dos Vereadores desta Casa é meritória e de alta relevância e, sem dúvida nenhuma, merece o nosso total apoio. Essa é a minha posição, mas acredito que a minha Bancada  acompanhará a minha maneira de pensar que colocarei a seguir.

Penso que mecanismos devem ser criados para que a concorrência entre os pequenos e grandes, entre os mais fracos e mais fortes, seja o mais leal e justa possível. Nessa disputa desigual entre pequenos e  grandes, e até megaempreendedores, devem ser estudadas medidas para que os pequenos não sejam dizimados pelos grandes.

Temos - o que me dá embasamento para estas colocações - gráfico que, por exemplo, nos mostram, na página três, que as cinco maiores redes utilizam 38% menos funcionários para a mesma venda. Isso é de extrema gravidade. Devemos pensar muito sobre isso.

O problema maior do Brasil , hoje, é  o desemprego. Temos problemas com a educação, com a saúde, com a reforma agrária e com a habitação. Os governos federal, estadual e municipal estão tentando resolver esse nosso maior problema, que é o desemprego. 

Então não podemos apoiar, não podemos chancelar medidas que venham  contribuir com o aumento do desemprego.

Nesta Casa, inclusive, votamos projetos para impedir colocação de bombas automáticas, de roletas eletrônicas, enfim, votamos contra a modernização, mas sempre levando em conta:  a manutenção dos empregos existentes ou o aumento deles.

Vemos, ainda, alguns outros gráficos que contemplam, também, essas desigualdades (página cinco), o porquê da concentração, a desigualdade da captação, a proibição dos países de origem. Isso é muito importante. Essas multinacionais não têm respaldo em seus próprios países e vêm para países como o nosso, em desenvolvimento ou  subdesenvolvidos, contribuir para que terminem esses pequenos negócios. Como moradora que fui de alguns países da Europa, verifiquei que os pequenos negócios - e na Argentina onde vivi também - sempre foram muito protegidos. Na Itália, na França, em cada esquina se encontra uma padaria, uma fiambreria, onde as pessoas se abastecem, dando emprego, dando condições de geração de  renda para muitas pessoas.

No caso de grandes empreendimentos como estes, principalmente, as multinacionais vêm prejudicar de maneira muito forte o nosso mercado.

Temos aqui muitos exemplos - e são questões que deixam claro -, como este exemplo nos Estados Unidos, onde mais de 64 cidades proíbem a abertura de “megastores”. A tendência  é que cinco grandes grupos dominarem o mercado brasileiro. Nós não podemos deixar que isso venha a contribuir com mais desemprego e maiores dificuldades para o povo brasileiro.

 

 

Sr. Presidente e Srs. Vereadores,  gostaríamos de discutir melhor, de termos a oportunidade de criar uma legislação pertinente e mais justa para esse tipo de situação. Muito obrigada.

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu não posso deixar de me manifestar nesta hora, no mínimo para saudar o Dr. Paulo Feijó, o Dr. Waldir Bronzatto, o Dr. Henrique Gerchmann e o João Francisco Vieira, que nos dão a satisfação de, juntamente com os Secretários Municipais, terem participado desta tarde de debates que diligentemente, por iniciativa do Ver. João Motta e com o apoio de todos nós, se instalou nesta Casa, nesta tarde. Realmente, os assuntos que foram aqui abordados não poderiam encontrar terreno mais fértil para prosperarem do que estão encontrando aqui na Casa. Na medida em que nós estamos debruçados no exame do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, que, ao final, será o instrumento regulador pelo qual poder-se-á buscar, não a regulamentação desapropriada - como assinalou o Presidente Feijó -, mas uma regulamentação adequada aos reclamos, às necessidades e, sobretudo, às conveniências da sociedade consumidora de Porto Alegre, que é aquela que nós representamos nesta hora e sobre a qual se produz os efeitos até mesmo da concentração exagerada que já se estabelece no Brasil e que foi aqui denunciada pela ABRAS.

Eu, pessoalmente, acredito que as contribuições que nos foram oferecidas, especialmente aquelas que demonstram que o problema não fica submisso às grandes redes de supermercados, mas que também deveríamos nos atentar para os verdadeiros promotores do abastecimento da Cidade - aquelas cinco mil pequenas e médias empresas que aqui em Porto Alegre asseguram, diuturnamente, o abastecimento. Todos esses aspectos, eu tenho absoluta consciência e a mais firme segurança de que serão objetos da consideração dos Srs. Vereadores, ao analisarem esse documento legal importante sobre o qual a Casa está debruçada. E, certamente, ao receber tão valiosas informações, haveremos de tirar o devido proveito e contribuirmos de forma clara, segura e serena a respeito do assunto. Disse e acentuei a expressão "serena", porque não podemos, na medida em que somos alertados de algumas situações, partirmos para o exagero de outra ordem. Fica claro que nem tudo que está sendo feito aqui em Porto Alegre é errado e que, ao contrário, muita coisa é acertada; que muitos dos equívocos são decorrentes de uma prática que ainda não se ajustou a realidade e que pode tranqüilamente ser objeto de um conserto, bastando, para tanto, sensibilidade. Não se busquem posições radicais. Eu, como liberal, desaconselho essas posições radicais, porque o radicalismo, o dogmatismo tem sido o grande mal das decisões quando são impregnadas de um emocionalismo não-racional. E não pense que agora o simples alertamento para uma realidade que existe - e que nós hoje vivenciamos com mais intensidade, através do alerta que nos trazem os representantes dos segmentos envolvidos mais diretamente no assunto -, que esse alerta seja no sentido de que nós venhamos, quem sabe, até a tomar posições radicais de querer suspender novos empreendimentos aqui em Porto Alegre, o que não é o caso. O que se precisa é selecionar melhor esses empreendimentos, induzi-los melhor e fazer com que até mesmo áreas que são hoje extremamente carentes de boas áreas de abastecimento possam ser privilegiadas com a nova política  que eventualmente venha a se tomar e que terá, até em termos territoriais, exatamente uma postura de desconcentração, como é o objetivo inicial  daqueles que no dia de hoje se manifestaram aqui nesta Casa. Vamos com isso, até de certa forma, evitar aquilo que aqui foi acentuado como "a concorrência predatória", que deve existir como uma forma de estímulo que beneficie o consumidor final e que não se transforme em mais um elemento de concentração de lucros em detrimento do grande beneficiário, ou da grande vítima desse processo todo, que é o consumidor porto-alegrense. Muito obrigado a todos, especialmente aos nossos visitantes. Não considero os Senhores Secretários visitantes, dada a constância com que eles se encontram aqui conosco, discutindo assuntos do dia a dia da Cidade. Refiro-me mais aos empresários, que parece que aprenderam claramente que aqui é uma Casa de debate, de entendimento, onde ninguém busca, pelo obscurantismo ou pela inconseqüência de fechar os ouvidos, encontrar outro tipo de solução que não aquela articulada na troca de informações  e na troca de experiências. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Já tivemos a manifestação de todos os Srs. Vereadores inscritos. Quero dizer que esta discussão iniciamos na Casa em 1995, quando colocávamos aqui o primeiro projeto tentando limitar a área possível de construção em cinco mil metros quadrados. Tenho certeza de que esse Projeto é inócuo para este momento, porque inclusive vivemos a discussão de um novo Plano Diretor para a Cidade. Acredito que todos os Vereadores da Casa devem opinar sobre o assunto, que recém começou a ser debatido  hoje.

O Ver. João Motta, que provocou a Sessão desta tarde, solicita um minuto para um encaminhamento que gostaria de fazer.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, gostaria apenas, até por um dever de consciência, registrar que vou passar às mãos, particularmente, dos meus companheiros de Bancada e de Governo e, também, das demais Bancadas e entidades aqui representadas, uma proposta concreta para debatermos. É um anteprojeto que ainda não está protocolado, e somente poderia fazê-lo depois de ouvir companheiros da minha Bancada. Depois de nove anos neste Legislativo - e a maioria dos Srs. Vereadores conhecem a minha conduta, não sou Vereador que trata de todos os temas em todos os instantes desta tribuna -, levantei o assunto, juntamente com outros Vereadores e outras entidades nele interessadas, porque, como cidadão, estou convencido de que estamos diante de uma grave situação. E a omissão seria, de minha parte, como  integrante deste Governo,  inaceitável. Passo às mãos de V. Exas., às mãos do Sr. Presidente e demais Vereadores, essa proposta inicial de uma medida transitória, para que se estabeleça de fato, a partir do novo Plano Diretor, parâmetros que vão no rumo das discussões que aqui já foram apontadas. Estou aberto ao debate, mas anuncio que tenho esta posição, democraticamente aqui colocada. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos agradecer a presença de todos os que vieram aqui para debater esse tema, a todas as autoridades que vieram prestigiar este Legislativo, a todos os Srs. Vereadores, Senhores e Senhoras, e dizer que o final desta reunião não marca o final do debate sobre esse tema, mas marca o início de um grande debate. O Ver. João Motta encaminha um Projeto que eu acredito que será um balizador, para que, quem sabe ele mesmo possa ser aprovado, estabeleça atitudes a serem tomadas depois do Plano Diretor; ou poderão vir a somar a esse Projeto outras propostas que deverão ser estudadas por este Plenário.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, o Ver. João Motta consultou a minha Bancada, que apóia, sem dúvida alguma, a proposição que nós também havíamos levado ao conhecimento da Casa.

 

O SR. PRESIDENTE: Conforme manifestação do Ver. Paulo Brum, que falou em nome da Bancada, somos favoráveis também a essa proposta colocada na Mesa pelo Ver. João Motta.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 17h56min.)

 

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